Nos idos de 1969, pós três discos lançados e um certo renome no cenário musical, o Deep Purple passou por uma crise interna. Ritchie Blackmore e Jon Lord estavam descontentes com a sonoridade folk e psicodélica da banda e estavam pensando numa levada mais pesada, parecida com o Vanilla Fudge. Tiveram a ideia de procurar um substituto para o vocalista Rod Evans em segredo, pois o Purple tinha inúmeros compromissos e andamento. Fizeram um teste com Ian Gillan, cantor do Episode Six e acabaram chamando também seu colega de banda Roger Glover para o baixo.
O mês de junho de 1969 foi o mais frenético da carreira da banda até então, pois ensaiavam com em segredo com Gillan e Glover e tocavam com a Mark I como se nada estivesse acontecendo. O vocalista e o baixista ainda tiveram que tocar com a Episode Six para cumprir um contrato de shows que terminava em julho. Mick Underwood, batera da banda, revelou mais tarde sua culpa no que considerou o tiro de misericórdia que pôs fim ao E6, mas ficou de boa com Gillan apesar dos pesares. Nesse mesmo mês, Rod Evans e Nick Simper foram oficialmente demitidos. O début fonográfico da Mark II foi a gravação do single Hallellujah (Greenaway, Cook), lançado em julho de 1969, que foi mal de vendas, apesar da extensiva divulgação.
A sonoridade do novo Deep Purple pôde ser conferida pela primeira vez quando saiu, em dezembro de 1969, o álbum ao vivo Concerto for Group and Orchestra, uma ousada mistura de música erudita com Rock, que contou com a participação da Royal Philarmonic Orchestra, sob regência de Malcolm Arnold, magistralmente executado no Royal Albert Hall em Londres no dia 24 de setembro de 1969. O concerto foi executado uma vez mais no ano seguinte nos EUA junto com a Los Angeles Philarmonic Orchestra e a partitura original foi perdida. Um dos grandes destaques é a primeira versão do clássico Child In Time. Essa foi a primeira composição da lavra Blackmore, Gillan, Glover, Lord and Paice, pois tinham um acordo de cavalheiros onde todos eles seriam creditados como autores, independente de quem tivesse criado alguma coisa. O som da banda ficou bem pesado, ao gosto de Blackmore e Lord.
Em junho de 1970, foi lançado o primeiro álbum de estúdio da Mark II, In Rock, produzido pela própria banda, um verdadeiro clássico do Hard Rock. Foi o início da colaboração do produtor Martin Birch com a banda, fazendo nesse trabalho as vezes de engenheiro de som. Ele era considerado uma espécie de sexto membro do Purple. Ali o peso do Deep Purple pode ser sentido através das faixas Speed King, Bloodsucker, Flight of the Rat, Into the Fire e uma versão definitiva do clássico Child in Time. A capa é uma homenagem aos fãs norte-americanos, com uma imagem da banda parecida com o Monte Rushmore, monumento importante do país.
Pouco antes do lançamento de In Rock, os fãs do Reino Unido puderam ter um tira-gosto do disco através da rádio estatal BBC, que executou todas as faixas, inclusive Jam Stew, que ficou fora do álbum e uma versão primitiva de Speed King, então chamada Kneel and Pray. Essa estratégia deu resultado e esse foi o primeiro disco da banda a agradar o público britânico, tendo chegado ao 4º lugar nas paradas do Reino Unido. Também fez um grande sucesso na Alemanha e na Austrália.
Em março de 1971, Jon Lord começou a gravar um disco solo, Gemini Suite, calcado no Concerto For Group and Orchestra, gravado quase dois anos antes. Contou com a produção de Martin Birch e com a participação dos colegas de Purple Roger Glover e Ian Paice, além de Albert Lee (guitarra), Yvonne Elliman e Tony Ashton (vocais). Gillan foi convidado a fazer uma audição para o papel central do musical Jesus Christ Superstar de Andre Lloyd Weber e Tim Rice e foi aprovado. Sua interpretação do Filho de Deus foi considerada uma das melhores performances do personagem do musical.
Em setembro de 1971, foi lançado o álbum Fireball, o primeiro disco do Deep Purple a chegar ao topo das paradas britânicas, muito embora tenha saído primeiro dos EUA e Canadá. Vários clássicos da banda estão presentes: a faixa-título (que foi lançada também em single), Strange Kind of Woman (que saiu apenas na versão americana e em single no reino Unido), Demons’s Eye (que saiu na versão britânica e como lado B de Fireball), No, No, No; Anyone’s Daughter e The Mule.
Seguiu-se então uma grande turnê que mostrava a banda mais madura e entrosada. Foi nesses shows que começaram os lendários duelos da voz de Gillan com o solo da guitarra de Blackmore. Certa feita, um jornalista perguntou a Gillan como era o processo de composição das músicas do Purple e a resposta foi a execução primitiva de um futuro clássico da banda: Highway Star. Durante um programa de TV na Alemanha, a banda tocou a música, ainda sem uma letra definida onde Gillan falava coisas sobre Mickey Mouse e Steve McQueen.
O próximo passo da experimentação do Purple era a gravação, em estúdio, de um álbum nas mesmas condições de uma performance ao vivo. Em dezembro de 1971, eles viajaram para a Suiça, onde acharam o local perfeito para o projeto, o cassino de Montreaux, às margens do Lago Genebra, onde acontecia um famoso festival de música. Eles foram conferir os shows que aconteciam na ocasião e usariam o teatro após a apresentação de Frank Zappa & The Mothers of Invention, que fecharia a temporada. Só que aconteceu um incêndio e tiveram que cancelar o início dos trabalhos. Estava em gestação o clássico máximo da história da banda, o álbum Machine Head.
Fontes:
Wikipedia
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