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Deep Purple, 50 anos: Parte 3: Mark II, a formação clássica — 30 de junho de 2018

Deep Purple, 50 anos: Parte 3: Mark II, a formação clássica

Nos idos de 1969, pós três discos lançados e um certo renome no cenário musical, o Deep Purple passou por uma crise interna. Ritchie Blackmore e Jon Lord estavam descontentes com a sonoridade folk e psicodélica da banda e estavam pensando numa levada mais pesada, parecida com o Vanilla Fudge. Tiveram a ideia de procurar um substituto para o vocalista Rod Evans em segredo, pois o Purple tinha inúmeros compromissos e andamento. Fizeram um teste com Ian Gillan, cantor do Episode Six e acabaram chamando também seu colega de banda Roger Glover para o baixo.

O mês de junho de 1969 foi o mais frenético da carreira da banda até então, pois ensaiavam com em segredo com Gillan e Glover e tocavam com a Mark I como se nada estivesse acontecendo. O vocalista e o baixista ainda tiveram que tocar com a Episode Six para cumprir um contrato de shows que terminava em julho. Mick Underwood, batera da banda, revelou mais tarde sua culpa no que considerou o tiro de misericórdia que pôs fim ao E6, mas ficou de boa com Gillan apesar dos pesares. Nesse mesmo mês, Rod Evans e Nick Simper foram oficialmente demitidos. O début fonográfico da Mark II foi a gravação do single Hallellujah (Greenaway, Cook), lançado em julho de 1969, que foi mal de vendas, apesar da extensiva divulgação.

A sonoridade do novo Deep Purple pôde ser conferida pela primeira vez quando saiu, em dezembro de 1969, o álbum ao vivo Concerto for Group and Orchestra, uma ousada mistura de música erudita com Rock, que contou com a participação da Royal Philarmonic Orchestra, sob regência de Malcolm Arnold, magistralmente executado no Royal Albert Hall em Londres no dia 24 de setembro de 1969. O concerto foi executado uma vez mais no ano seguinte nos EUA junto com a Los Angeles Philarmonic Orchestra e a partitura original foi perdida. Um dos grandes destaques é a primeira versão do clássico Child In Time. Essa foi a primeira composição da lavra Blackmore, Gillan, Glover, Lord and Paice, pois tinham um acordo de cavalheiros onde todos eles seriam creditados como autores, independente de quem tivesse criado alguma coisa. O som da banda ficou bem pesado, ao gosto de Blackmore e Lord.

Em junho de 1970, foi lançado o primeiro álbum de estúdio da Mark II, In Rock, produzido pela própria banda, um verdadeiro clássico do Hard Rock. Foi o início da colaboração do produtor Martin Birch com a banda, fazendo nesse trabalho as vezes de engenheiro de som. Ele era considerado uma espécie de sexto membro do Purple. Ali o peso do Deep Purple pode ser sentido através das faixas Speed King, Bloodsucker, Flight of the RatInto the Fire e uma versão definitiva do clássico Child in Time. A capa é uma homenagem aos fãs norte-americanos, com uma imagem da banda parecida com o Monte Rushmore, monumento importante do país.

Pouco antes do lançamento de In Rock, os fãs do Reino Unido puderam ter um tira-gosto do disco através da rádio estatal BBC, que executou todas as faixas, inclusive Jam Stew, que ficou fora do álbum e uma versão primitiva de Speed King, então chamada Kneel and Pray. Essa estratégia deu resultado e esse foi o primeiro disco da banda a agradar o público britânico, tendo chegado ao 4º lugar nas paradas do Reino Unido. Também fez um grande sucesso na Alemanha e na Austrália.

Em março de 1971, Jon Lord começou a gravar um disco solo, Gemini Suite, calcado no Concerto For Group and Orchestra, gravado quase dois anos antes. Contou com a produção de Martin Birch e com a participação dos colegas de Purple Roger Glover e Ian Paice, além de Albert Lee (guitarra), Yvonne Elliman Tony Ashton (vocais). Gillan foi convidado a fazer uma audição para o papel central do musical Jesus Christ Superstar de Andre Lloyd Weber e Tim Rice e foi aprovado. Sua interpretação do Filho de Deus foi considerada uma das melhores performances do personagem do musical.

Em setembro de 1971, foi lançado o álbum Fireball, o primeiro disco do Deep Purple a chegar ao topo das paradas britânicas, muito embora tenha saído primeiro dos EUA e Canadá. Vários clássicos da banda estão presentes: a faixa-título (que foi lançada também em single), Strange Kind of Woman (que saiu apenas na versão americana e em single no reino Unido), Demons’s Eye (que saiu na versão britânica e como lado B de Fireball), No, No, NoAnyone’s Daughter e The Mule.

Seguiu-se então uma grande turnê que mostrava a banda mais madura e entrosada. Foi nesses shows que começaram os lendários duelos da voz de Gillan com o solo da guitarra de Blackmore. Certa feita, um jornalista perguntou a Gillan como era o processo de composição das músicas do Purple e a resposta foi a execução primitiva de um futuro clássico da banda: Highway Star. Durante um programa de TV na Alemanha, a banda tocou a música, ainda sem uma letra definida onde Gillan falava coisas sobre Mickey Mouse e Steve McQueen.

O próximo passo da experimentação do Purple era a gravação, em estúdio, de um álbum nas mesmas condições de uma performance ao vivo. Em dezembro de 1971, eles viajaram para a Suiça, onde acharam o local perfeito para o projeto, o cassino de Montreaux, às margens do Lago Genebra, onde acontecia um famoso festival de música. Eles foram conferir os shows que aconteciam na ocasião e usariam o teatro após a apresentação de Frank Zappa & The Mothers of Invention, que fecharia a temporada. Só que aconteceu um incêndio e tiveram que cancelar o início dos trabalhos. Estava em gestação o clássico máximo da história da banda, o álbum Machine Head.

Fontes:

Wikipedia

Musical Review

Site oficial 

 

 

Deep Purple, 50 anos: Segunda parte: Ascensão e queda da Mark I — 28 de junho de 2018

Deep Purple, 50 anos: Segunda parte: Ascensão e queda da Mark I

Em 1967, o ex-baterista dos Searchers Chris Curtis teve ideia de uma banda de formação flutuante à qual chamou de Roundabout, chamando o tecladista Jon Lord e o baixista Nick Simper, que trouxeram o guitarrista Ritchie Blackmore. Quando tudo estava pronto para dar início ao projeto, Curtis desapareceu e a ideia de rodízio de músicos foi abandonada. Para completar o lineup, foram recrutados o vocalista Rod Evans e o baterista Ian Paice.

No início de 1968, a banda recém-formada tinha como quartel-general um clube de campo em South Mimms, Hertfordshire, onde poderiam ensaiar, compor e ficar à vontade. No mês de abril, fizeram seu début numa pequena turnê à Dinamarca e Suécia, ainda usando o nome Roundabout, por força contratual. De volta, trataram de pensar num nome para a banda. Ritchie Blackmore sugeriu o nome de uma velha canção, favorita de sua avó e que fora composta por Billy de Rose (música) e Mitchell Parish (letra) chamada Deep Purple. Essa música foi gravada por diferentes artistas como The DominoesScreamin’ Jay Hawkins , Vic Damone e Nino Tempo & April Stevens (a versão mais conhecida dos brasileiros). Outro nome sugerido foi Concrete God, mas ficaram com Deep Purple mesmo. Em maio de 1968, eles se mudaram para os arredores de Londres, perto do estúdio da Pye, onde começaram a gravar material para o primeiro álbum.

Em junho de 1968, saiu o primeiro single da banda, Hush (Joe South)/One More Rainy Day (Lord, Evans). Em julho de 1968, foi lançado nos EUA o álbum The Shades of Deep Purple, produzido por Derek Lawrence, saindo no Reino Unido em setembro de 1968. O disco é permeado de covers como a maravilhosa versão deles para Help!, clássico dos BeatlesHey Joe (Jimi Hendrix) e Prelude/Happiness:I’m So Glad, peça de Rimski-Korsakov (1844-1908) juntamente com um Blues de Skip James (1902-1969), além de composições próprias como Mandrake Root (Blackmore, Lord, Evans), primeiríssima música composta pela banda, que nasceu após uma jam quando Rod Evans e Ian Paice foram testados, além de One More Rainy Day (Lord, Evans) e Love Help Me (Blackmore, Lord). A recepção do disco na Inglaterra (pelo selo Parlophone) foi bastante fria, mas nos EUA (pelo selo Tetragrammation) a coisa foi diferente. O single Hush chegou ao quarto lugar do Hot 100, um grande feito para uma banda estreante. No Canadá, o disco chegou ao segundo lugar. No mês seguinte, tocaram como banda de abertura para o badalado Cream  em sua derradeira turnê Goodbye Cream.

Em outubro de 1968, aproveitando a empolgação e a boa vendagem do disco, eles saíram em turnê, ao mesmo tempo em que lançaram nos EUA o segundo álbum, The Book of Talyesin (que só foi lançado na Inglaterra um ano depois pela Harvest Records), também produzido por Derek Lawrence. Tem como destaque a versão da banda para Kentucky Woman (de Neil Diamond), que chegou ao 28º lugar nas paradas norte americanas, além de Wring That Neck (Blackmore, Lord, Paice, Simper), um número instrumental que teve que ter seu nome alterado para Hard Road, pela violência do título [tradução: torcer esse pescoço]. Também se destacam a composição em cima de uma música de Beethoven Exposition (Blackmore, Lord, Paice, Simper) colada com We Can Work It Out, outro clássico dos Beatles e o cover de River Deep Mountan High (Ike & Tina Turner). Em dezembro de 1968, fizeram sua primeira turnê nos EUA, ocasião em que  visitaram a mansão de Hugh Hefner, famigerado criador da revista Playboy. Descobriram que outro motivo pelo qual eles estavam em alta na Terra do Tio Sam era o fato de existir uma droga com o mesmo nome da banda, conhecida principalmente na Califórnia.

No início de 1969, fizeram mais uma turnê, gravando, paralelamente material para seu terceiro álbum. Em fevereiro de 1969, saiu o single Emmaretta (Blackmore, Evans, Lord)/This Bird Has Flown, única música que não figurou nesse disco, escrita tendo como inspiração a atriz Emmaretta Marks, que o vocalista Rod Evans estava cortejando à época. Foi o primeiro disco do Purple lançado primeiro no Reino unido de depois nos EUA (onde contou com Wring That Neck no lado B).

Em junho de 1969, foi lançado nos EUA o álbum Deep Purple (que muita gente chama de Deep Purple III), produzido por Derek Lawrence, que saiu no Reino Unido em setembro de 1968. Foi o primeiro disco deles com predominância de músicas próprias. Destacam-se Lalena (Donovan), único cover do disco, juntamente com Chasing Rainbows (Lord, Paice) e a já citada This Bird Has Flown. O disco foi um grande sucesso comercial, mas representou o canto do cisne para a chamada Mark I da banda. Rod Evans e Nick Simper estavam com os dias contados.

Nesse ínterim, começaram a surgir alguns problemas internos. A banda começou a reclamar da demora no repasse do dinheiro da venda dos discos pela gravadora norte-americana Tetragrammation. Além disso, Lord e Blackmore reclamaram com Paice não estavam gostando da sonoridade psicodélica da banda, querendo algo mais pesado, na linha do Vanilla Fudge (o guitarrista e o tecladista nunca esconderam de ninguém que queriam que o Purple fosse um “clone do Vanilla”). Isso começou a ser sentido na nova turnê, onde viram que seu vocalista e seu baixista não estavam correspondendo aos anseios por mudanças.

Num primeiro momento, o cantor inglês Terry Reid foi cogitado como candidato à vaga de vocalista, já que estava gozando de grande fama no cenário musical. Reid gentilmente recusou a oferta, a exemplo do que havia feito em 1968 quando foi chamado por Jimmy Page para integrar o New Yardbirds (que deu origem ao Led Zeppelin).

Blackmore reencontrou um velho conhecido, o baterista Mick Underwood, seu ex-colega na banda The Outlaws. Ele convidou Ritchie e Lord para conferirem o som de sua banda Episode Six. Os dois ficaram impressionados com a performance do frontman Ian Gillan (nascido no dia 19 de agosto de 1945 em Hounslow, Londres, Inglaterra). Um fato curioso é que Gillan havia sido contatado por Nick Simper na época em que o Roundabout estava sendo formado e o cantor recusou o convite, dizendo que aquele projeto não tinha futuro e preferia continuar com sua banda.

Uma vez que a Mark I tinha inúmeros compromissos assumidos em andamento, Blackmore, Lord e Paice resolveram manter a preparação para uma nova formação em segredo e combinaram um teste secreto com Gillan para o posto de vocalista no Purple. Este acabou levando consigo o baixista de sua banda, Roger Glover (nascido Roger David Glover no dia 30 de novembro de 1945 em Brecon, País de Gales). Eles estavam mais interessados em Gillan, mas acabaram admitindo Glover também, a pedido de Paice.

Fontes:

Wikipedia

Musical Review

Site oficial 

Deep Purple, 50 anos: Parte 1: Roundabout — 27 de junho de 2018

Deep Purple, 50 anos: Parte 1: Roundabout

O Deep Purple está completando meio século de atividade e é uma das mais importantes bandas da história do Rock and Roll, fazendo parte da chamada Santa [ou Profana] Trindade do Metal, juntamente dom o Led Zeppelin e o Black Sabbath. Além disso, possui uma das maiores árvores genealógicas dentre as bandas de Hard Rock e Heavy Metal.

Tudo começou em 1967, quando Chris Curtis (nascido Christopher Crummy no dia 26 de agosto de 1941 em Oldham, Lancashire, Inglaterra), ex-baterista e cantor dos Searchers, uma das mais conhecidas bandas da cena do Mersey Beat em Liverpool, teve uma grande ideia para um projeto: Roundabout, uma superbanda onde haveria um rodízio de músicos em torno dele, como se fosse uma rotatória musical [N. Ed. em algumas traduções é carrossel]. Entrou em contato com o produtor Tony Edwards (1932-2010) que gostou da proposta. Para financiar a empreitada, Edwards contou com seus sócios John Coletta e Ron Hire, com quem formava a firma HEC Enterprises.

O primeiro músico a ser contatado foi o tecladista Jon Lord (nascido Jonathan Douglas Lord no dia 9 de junho de 1941 em Leicester, Inglaterra), que havia feito nome na cena londrina tocando com a banda The Artwoods, que tinha como vocalista Art Wood (1937-2006), irmão de Ronnie Wood [futuro guitarrista dos FacesRolling Stones].  Quando a banda quis mudar o nome para Saint Valentine’s Day Massacre, aproveitando a onda de filmes de gângster que se alastrou pela Inglaterra, somando-se o fato de que o disco da [nova] banda tinha sido um grande fracasso comercial, Jon Lord saiu e formou a banda de curta duração Santa Barbara Machine Head, que contava com o jovem Ronnie Wood (hoje nos Rolling Stones) na guitarra. Nesse ínterim, Lord foi recrutado para tocar na banda de apoio do grupo vocal norte-americano The Flowerpot Men para uma série de shows, mas o emprego teve duração efêmera. Também era figurinha carimbada como músico de estúdio, sendo creditado nas sessões de gravação do clássico You Really Got Me dos Kinks, embora ainda haja uma grande controvérsia quanto a isso.

Lord dividia um apartamento com Curtis nessa época e durante uma festa, o batera contou sobre o projeto e apresentou Tony Edwards a ele. Lord achou interessante a proposta e fechou com o Roundabout. Para fechar essa formação (bateria+teclados+guitarra), Jon sugeriu que chamassem o jovem guitarrista Ritchie Blackmore (nascido Richard Hughes Blackmore no dia 14 de abril de 1945 em Weston-super-Mare, Somerset, Inglaterra). Ele já tinha estabelecido fama como excelente músico de estúdio, além de ter tocado nas bandas The Outlaws, Screamin’ Lord Sutch & The Savages e Neil Christian’s Crusaders. Naquele momento, ele estava morando em Hamburgo, Alemanha com a namorada e foi persuadido a abraçar o projeto.

Quando estava tudo pronto para o début do Roundabout, a surpresa: Chris Curtis havia desaparecido! Talvez tivesse desistido em favor de seu notório espírito errático. Num primeiro momento, pensaram em cancelar tudo, mas Edwards, Lord e Blackmore decidiram abandonar o conceito inicial de rodízio e formar uma banda convencional.

Para o baixo, Lord chamou seu velho amigo e ex-colega de Flowerpot Men Nick Simper (nascido Nicholas John Simper no dia 3 de novembro de 1945 em Norwood Green, Southall, Middlesex, Inglaterra), que havia tocado na última formação da lendária banda Johnny Kidd & The Pirates, que acabou após a morte trágica de seu vocalista num acidente de carro. Depois disso, Simper foi tocar nos Flowerpot Men, onde reencontrou o amigo Lord. Também chegou a tocar na banda de Screamin’ Lord Sutch (1940-1999), onde conheceu Blackmore. Edwards chamou o baterista Bobby Woodman (nascido Robert William Woodman em 13 de junho de 1940 em Coventry, Inglaterra; falecido em 29 de agosto de 2014), que tinha no currículo a atuação na banda Vince Taylor and the Playboys.

Fora feitas algumas audições para oposto de vocalista. Dentre os candidatos estavam Rod Stewart (que acabou fazendo fama no Jeff Beck Group e depois no The Faces) e Dave Curtiss, um amigo de Woodman. Num dos testes, Woodman deixou Blackmore, Simper e Lord na mão para fazer compras. O candidato Rod Evans (nascido Roderick Evans no dia 19 de janeiro de 1947 em Slough, Berkshire, Inglaterra), que na época, atuava como vocalista da banda The Maze, participou da audição e por acaso acabou levando o amigo e colega de banda Ian Paice (nascido Ian Anderson Paice no dia 29 de junho de 1948 em Nottingham, Inglaterra), que atuava como baterista. A princípio, Paice foi para dar apoio moral a Evans. Como eles estavam sem o batera na hora, Paice tocou com eles. Resultado: os dois amigos abocanharam as vagas da banda e Woodman foi dispensado.

Créditos:

Wikipedia

Musical Review

Site oficial 

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O batera Chris Curtis, fundador do Roundabout
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Anúncio de um show do Roundabout